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Corrupcion por Dr. Achutti

CORRUPÇÃO
Aloyzio Achutti. Membro da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
(Publicado hoje no jornal ZH)

É uma das fraquezas do ser humano: pelo poder (e pelo dinheiro que compra o poder) se faz qualquer coisa. A própria Bíblia começa por aí, e está cheia de histórias de comportamento duvidoso na busca de privilégios. Existem até explicações biológicas para a voracidade no controle do terreno, e na busca de domínio sobre potenciais competidores.

Alimentamos a fantasia de que somos seres por natureza virtuosos, capazes de respeitar valores e direitos dos outros, e costumamos colocar a responsabilidade do deslize fora de nós, buscando uma serpente perversa, para explicar a virtude corrompida. Mas até o adágio diz que “todo o mundo um tem seu preço”...

Quando escândalos alcançam as manchetes nos damos conta de fenômenos que necessitam da surdina para se desenvolver, ou que de tão freqüentes deixamos de estranhar. Entretanto, somente através da transparência, permitindo o controle social, se consegue frear o impulso da corrupção.

Uma das agências que se ocupa do assunto, no relatório deste ano, cujo mote é “um mundo construído em cima de propinas” estima em torno de um trilhão de dólares o volume da sangria anual que se desvia de suas legítimas finalidades e que termina movendo o mundo através de interesses secundários.

Resultados de pesquisa realizada no ano passado, tentando estimar o grau de corrupção das instituições pelo mundo afora, colocaram em primeiro e segundo lugar partidos políticos e poder legislativo, o que não nos causa surpresa. Em seguida vem a polícia e todo o sistema judiciário, recursos nos quais deveríamos confiar no controle da ordem social. O setor privado e de negócios se situa em 6º lugar, provavelmente pelo equilíbrio já estruturado pela concorrência de mercado.

Em posição intermediária situam-se a mídia, os serviços médicos e a educação.

Por falar na minha profissão, é de se admirar o grau de preservação ainda existente, apesar de todos os desafios e interesses secundários de dentro e de fora da profissão (num dos setores que mais se expande no mundo atual, e no qual vem se perdendo a força da relação simples e do contrato claro entre o médico e o paciente): intermediações de todo tipo, indústria hospitalar, farmacêutica e de equipamentos. De muitas formas se manifesta o abuso nas relações sociais e a corrupção. Não é somente com dinheiro, mas também com favores, presentes, tráfego de influência e de ilusões, nepotismo, corrupção passiva e outras.

As tensões sociais, aliadas às fragilidades e desvios da personalidade rompem o tecido social, as relações de confiança, o contrato de tolerância, a ordem das prioridades e terminam com a solidariedade. Fica-se exposto a toda sorte de abusos e de exploração, cada um encontrando justificativa no clima de luta pela sobrevivência, na imitação do comportamento grupal, na bruma da perda da identidade, na impunidade, nos impulsos selvagens da discriminação, e no desespero ou disputa por espaço e expressão narcisista.

A discussão deste tema não pode servir como desculpa para também entrar numa competição que só pode levar ao desastre global, mas para alertar para uma permanente vigilância e reconstrução de uma sociedade com mais transparência.

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